Georg Elser

Até Stauffenberg, até ao dia 20 de Julho de 1944, ninguém esteve mais perto de conseguir exterminar Hitler do que Georg Elser. O feito de Elser espelha o sentimento de revolta e de indignação que também se verificava nas camadas mais baixas da sociedade alemã de então. Elser não era um indivíduo com poder, não tinha amigos influentes (era um solitário), não se movia em corredores alcatifados, nem sequer possuía estudos (não lia livros e raramente se preocupava com os jornais) nem consciência política apurada (embora tivesse sido membro da Roter Fröntkampferbund e do sindicato dos trabalhadores da madeira; embora sem papel de relevo em nenhuma das associações). Elser era um homem do povo e prova que também entre os indíviduos oriundos da base da escala social alguns havia que desaprovavam o rumo que a sua pátria tomava.

Em 1938 Elser estava já decidido. A única solução para evitar a guerra que se adivinhava e para melhorar a vida da classe operária (onde Elser se incluía e sofria) era o extermínio da cúpula do regime, ou seja, Hitler, Göring e Goebbels. E tal oportunidade apresentou-se no dia 8 de Novembro de 1939, o dia da celebração do putsch falhado de 1923, o dia em que anualmente a "Velha Guarda" do Partido Nazi se reunia para celebrar "o início do início". O local era, como sempre, o Bürgerbräukeller em Munique. Acertada a data e o local, Elser pôs-se em acção.

Metodicamente foi planeando o atentado. Decidiu então que o melhor plano era esconder uma bomba-relógio dentro de um dos pilares (de madeira) da cervejaria, imediatamente atrás do palanque onde Hitler faria o seu discurso. De Novembro de 1938 a Agosto de 1939 Elser foi cuidadosamente roubando da fábrica onde trabalhava os explosivos necessários à sua empresa, foi fabricando e aperfeiçoando modelos de bombas (que detonava no jardim de casa de seus pais) e fez várias deslocações de Könnigsbronn (onde vivia) até Munique de modo a reconhecer o terreno. Entre Agosto e a data da reunião Elser escondeu-se, em mais de trinta ocasiões, na cervejaria e passava a noite inteira escavando o pilar escolhido. De manhã saía de mansinho, para mais tarde voltar e continuar o trabalho de escavação. Elser era tão metódico que até forrou interiormente a coluna escavada com umas folhas de lata, não fossem os organizadores da festa querer martelar a coluna durante o engalanar da cervejaria e descobrir-lhe o intento. A 6 de Novembro Elser colocou a bomba-relógio (armada) dentro da coluna. A 7 de Novembro voltou lá para confirmar que continuava operacional (ouviu-lhe o tique-taque através da madeira...). E na manhã de 8 de Novembro abandonou Munique, num comboio em direcção a Konstanz, a caminho da Suiça.

Como Elser não lia jornais não deu conta de que, enquanto preparava todo este cenário, Hitler decidira não participar na celebração (não esqueçamos que a guerra estava já em curso e outras movimentações requeriam a atenção do fuehrer) nomeando em sua substituição Rudolf Hess. Tudo indicava, portanto, o falhanço total. Mas, e como já era habitual, Hitler mudou os planos à última da hora e compareceu no local. Às 20:10 iniciou o seu discurso e terminou-o às 21:07. À pressa, pois tinha um comboio para Berlim às 21:31 para apanhar, retirou-se da sala. E cerca de 10 minutos depois, pelas 21:20, a bomba-relógio de Elser explodiu matando oito pessoas e ferindo sessenta e três, dezasseis das quais gravemente. Hitler, como sempre neste tipo de acontecimentos, encarou a sua salvação como obra da Providência.

Quanto a Georg Elser já se encontrava preso na altura da explosão. Apanhado, numa operação de rotina, a tentar atravessar a fronteira ilegalmente, foi posteriormente tornado suspeito (tinha um postal do Bürgerbräukeller no bolso do casaco...) e a 14 de Novembro confessou. Estranhamente foi tratado como prisioneiro privilegiado no campo de Sachsenhausen (Hitler, ao que parece, não acreditou na história de Elser e continuou a achar que ele tinha ligação a uma conspiração de origem inglesa) e só quando a guerra estava já a caminho do fim, e já no campo de Dachau (para onde fora transferido em finais de 1944, início de 1945), é que Elser foi executado, poucos dias antes da chegada das tropas norte-americanas.


Neste pequeno filme de propaganda alemão (da UFA) podemos observar o aftermath da iniciativa de Georg Elser. Os destroços da cervejaria, a visita de camaradas aos feridos hospitalizados e a homenagem de Adolf Hitler aos mortos no atentado.




Informação maioritariamente recolhida do livro Hitler. 1936-1945 Nemesis de Ian Kershaw (W. W. Norton, New York and London, 2000) e da Internet.



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