Swing Jugend

A Juventude Swing (Swing Jugend) levou muitos jovens alemães por um caminho peculiar, de resistência singular. Este movimento recolheu os seus elementos maioritariamente (mas não só) na classe média alta e pode definir-se como um movimento de cultura popular, cujo principal traço (e transgressão) foi o consumo e a propagação da música swing e/ou jazz e/ou jive e/ou jitterbug e/ou negro music. Ao contrário de movimentos juvenis como os Edelweiss Piraten e os vários Meuten, este movimento consistia numa juventude letrada, com particular àvontade com a língua inglesa, com um poder de compra acima da média, que, embora não fossem abertamente politizados (o seu comportamento pode ser considerado mais antipolítico que antifascista), claramente desafiavam a retórica nacional socialista e o nacionalismo burguês. A dança desenfreada, cabelos compridos, dress codes particulares, a prática da casualidade (lässigkeit) e do desleixo (lottern), a vivência da cultura oriunda dos inimigos naturais, a Inglaterra e os EUA, são traços forte da Juventude Swing.

Embora inicialmente aceites, os bailes swing já eram em 1940 descritos da seguinte maneira por um relatório da Juventude Hitleriana:
«The dance music was all English and American. Only swing dancing and jitterbugging took place. At the entrance to the hall stood a notice on wich the words 'Swing prohibited' had been altered to 'Swing requested'. The participants accompanied the dances and songs, without exception, by singing the English words. Indeed, throughout the evening they attempted only to speak English; at some tables even French.
The dancers were an appalling sight. None of the couples danced normally; there was only swing of the worst sort. Sometimes two boys danced with one girl; sometimes several couples formed a circle, linking arms and jumping, slapping hands, even rubbing the backs of their heads together; and then, bent double, with the top half of the body hanging loosely down, long hair flopping into the face, they dragged themselves round pratically on their knees. When the band played a rumba, the dancers went into wild ecstasy. They all leaped around and joined in the chorus in broken English. The band played wilder and wilder items; none of the players was sitting down any longer, they all 'jitterbugged' on the stage like wild creatures. Several boys could be observed dancing together, always with two cigarettes in the mouth, one in each corner...»


Esta descrição é mais do que suficiente para nos apercebermos da repulsa que este movimento podia causar nas mentes nacional-socialistas. E para quem isto possa parecer corriqueiro, até meio jocoso, basta pensarmos que o próprio Himmler (numa carta para Heydrich) refere com desgosto a existência destes movimentos e expressa a sua vontade de enviar os seus líderes para campos de concentração. Outro motivo para tanto ódio dirigido a estes jovens pode estar no facto de os seus círculos de relações não excluírem membros judeus. Gradualmente estes bailes públicos foram sendo proibidos mas logo outros, mais privados e de menores dmensões, foram surgindo em cidades como Hamburgo, Kiel, Berlim, Estugarda, Frankfurt, Dresden, Halle e Karlsruhe. Como muitos deles tinham posses, muitos deles tinham gramofones, utensílio difícil de conseguir mas única possibilidade de ouvir swing, cedo banido das emissões radiofónicas. Como alguns deles tinham casas grandes e pais ausentes, muitos clubes nasciam mesmo dentro de casa.

Outra das facetas ameaçadoras da ordem estabelecida era a propensão para uma libertação sexual por parte dos swingers. Promiscuidade, sexo grupal e demais perversões eram constantemente mencionados nos relatórios nacional-socialistas. Certamente exagerados, contudo realçavam uma verdadeira atenção destes jovens para com a imagem pessoal, o culto do hedonismo, como se pode observar no seguinte trecho:
«The predominant form of dress consisted of long, often checked English sports jackets, shoes with thick light crepe soles, showy scarves, Anthony Eden hats, an umbrella on the arm whatever the weather, and, as an insignia, a dress-shirt button worn in the buttonhole, with a jewelled stone.
The girls too favoured a long overflowing hair style. Their eyebrows were pencilled, they wore lipstick and their nails were lacquered.
The bearing and behaviour of the members of the clique resembled their dress.»


Ou ainda, na seguinte carta de um membro do clube de swing "Plutocratas" (em Kiel), para um amigo ausente em viagem:
«Be a proper spokesman for Kiel, won't you? i.e., make sure you're really casual, singing or whistling English hits all the time, absolutely smashed and always surrounded by really amazing women.»

Ao que parece o movimento Weisse Rose terá tido contactos com a Juventude Swing de Hamburgo, através de três dos seus membros que terão "respondido" ao apelo da música. Nenhuma acção conjunta se operou mas isso não impediu de, já no fim da guerra, alguns elementos da Juventude Swing terem sido implicados num processo a decorrer num Tribunal Popular. Felizmente para eles, a guerra acabou e a consequente execução não teve lugar.

Em 1993 Thomas Carter realizou o filme Swing Kids, largamente inspirado neste jovens que aqui abordámos. Como filme não é notável, mas o tema é interessante o suficiente para uma sessão de cinema caseiro.


Informação maioritariamente recolhida de PEUKERT, Detlev J. K. – Inside Nazi Germany. Conformity, Opposition, and Racism in Everyday Life; Yale Univ. Press, New Haven and London, 1987. As citações e as duas primeiras fotografias são retiradas desta obra.



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